Matar nunca fez parte do projeto original de Deus para o nosso planeta.
“Tudo o que vive quer viver.” Essa frase, atribuída a Francisco Assis, jovem italiano que deixou sua marca no mundo como alguém que respeitava a vida, soa como um manifesto de criaturas mudas. Outra frase mais antiga, atribuída a Deus, o criador da vida, é mais conclusiva ainda, menos aberta e menos concessória: “Não matarás” (Êxodo 20:13). “Não matarás” faz parte do decálogo entregue originalmente aos judeus através de Moisés, e a todas as pessoas através de Jesus Cristo. Esse mandamento é muito abrangente e vai além do ato de tirar a vida de um ser humano.
Não matar... o próximo. O cúmulo da arrogância que o mal lançou no coração do ser humano é o pretenso direito de tirar a vida de outro ser humano. O holocausto judeu “justificou-se” na mente louca de Hitler e seus colaboradores com a pretensão de criar uma raça superior. Mata-se por amor, mata-se para defender a pátria, por autodefesa, mata-se pela manutenção da honra. Mas também mata-se para roubar, vingar.
Não matar... a você mesmo. E de quantas maneiras isso é possível? A maioria jamais pensaria em fazer isso pulando do alto de um prédio ou se enforcando. Mas há outras maneiras bem mais sociáveis: fumando cigarros, tomando bebidas alcoólicas, usando drogas, trabalhando demais, dormindo pouco, comendo demais ou de menos.
Cuidar do corpo é zelar do maior patrimônio que temos. Fazemos isso praticando exercícios físicos e selecionando o alimento que ingerimos. É verdade que há um bom número de brasileiros que não tem o mínimo para comer, e muito menos poderiam selecionar algo. Bom seria se os pais, professores e a mídia se preocupassem em ensinar bons modos alimentares e estimulassem a produção, unicamente, de artigos saudáveis. Os gastos com a saúde seriam bem menores, e mesmo os que têm menor renda poderiam usufruir de melhores alimentos e de comportamentos mais saudáveis.
Não matar... os animais. Se matamos gente, pessoas, que dizer dos animais? Por incrível que possa parecer, matar bicho é uma boa escola para matar gente. Começamos matando galinhas, peixes, porcos e vacas para comer e depois, que diferença haveria em fazer isso com pessoas? Não estou afirmando que quem mata galinha mata gente. Minha avó matava galinhas e nunca matou ninguém, quanto eu sabia. Entretanto, sabe-se que lidar com essa situação e consumir alimentos cárneos exageradamente pode embrutecer as pessoas.
“Razões” para matar bichos, temos e muitas: porque precisamos comer, por que são perigosos, por que envelhecem, porque adoecem. Os animais não falam e não possuem raciocínio elaborado como o nosso. Talvez. Mas ao ser empurrado para o corredor da morte de um moderno frigorífico, na verdade, para o matadouro, nenhum boi ou porco entra ali de boa vontade. O animal empaca, se espreme contra a parede, derrama lágrimas, e só avança quando forçado por um bastão pontiagudo. Ele vive e quer viver, mas quem se importa com isso?
As galinhas são criadas em cativeiros super lotados e superiluminados para que não durmam e comam sem parar. Em vida têm os bicos cortados. Na hora da morte, recebem um choque elétrico e perdem o pescoço por degola. Os gansos, coitados, recebem tratamento medieval para fornecer a seres humanos egoístas o caríssimo patê foie gras. Os criadores enfiam um funil na garganta do bicho e o entopem de comida durante meses, forçando o fígado da ave a trabalhar excessivamente. Por isso, ele inflama, incha e fica cheio de gordura. Quer dizer: além de ser uma doença, o caríssimo foie gras é produto de maldade pura. Gansos, patos, perus e galinhas querem viver, mas quem se importa com isso?
A morte não tinha lugar no projeto de Deus ao criar os primeiros seres humanos sobre a Terra e estabelecê-los no tão famoso jardim do Éden. Naquele lugar, a vida dava o tom. Ninguém matava nada, por motivo nenhum. Nem por fome, nem por vingança, nem por ódio, nem por defesa. O cardápio era composto por vegetais e o amor intermediava todas as ações.
Neste mundo pós-Éden, nossos carros matam cachorrinhos nas estradas, nossa fome sacrifica e devora milhões de seres que nunca pulariam de um viaduto para se matar. Nosso direito ao lazer enfia anzóis goela abaixo de peixes magníficos. Se um dia pensarmos nas razões dos animais...
Por Francisco Lemos, editor da revista Vida e Saúde.
Enviado pelo Instituto Nina Rosa (www.institutoninarosa.org.br)
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