Sempre evito falar sobre religião, futebol e outras preferências pessoais, principalmente aqui no blog.
Mas o fato ocorrido no início do mês passado com os jogadores do Santos (que curiosamente envolve religião e futebol) e divulgado em alguns meios de comunicação (clique aqui ou aqui para saber mais) merece uma análise.
O fato é que o clube resolveu fazer uma doação para uma instituição que cuida de pessoas com paralisia cerebral e levou até lá todo o seu elenco, num ônibus. A casa de caridade é o Lar Espírita Mensageiros da Luz, que fica na própria cidade de Santos.
Até aí, tudo bem, não fosse o fato de o time ter entre suas maiores estrelas um grupo de evangélicos, que não desceu do ônibus e preferiu deixar as crianças ansiosas na vontade de conhecê-los pessoalmente. Isso, só porque se tratava de uma instituição espírita.
Esse grupo de "Atletas de Cristo", composto por Robinho, Neymar, Roberto Brum, Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos, André e Paulo Henrique Ganso, idolatrado por tanta gente, mostrou que não passa de lixo, de resto, de escória.
Depois disso, Neymar e Ganso ainda estiveram num desses programas esportivos, dirigidos a torcedores tão acéfalos quanto eles e assumiram seu "erro", dizendo que "Tem motivo religioso e outras coisas também. Só que isso não pode ser dito aqui. Precisa ficar fechado no grupo mesmo".
Minha opinião é a seguinte: gente dessa espécie não merece espaço na mídia e não poderia jamais se auto-denominar "Atleta de Cristo"! Sei que têm alguns evangélicos que apóiam a atitude desses hipócritas, mas a maioria não.
Transcrevo aqui um excelente artigo e muito interessante - escrito por um pastor evangélico - que fala do ocorrido e que, na minha opinião, acerta na mosca:
"Numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com deficiência cerebral para entregar ovos de Páscoa, uma parte dos atletas, jogadores dos Santos, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se recusou a entrar na entidade e preferiu ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação que são evangélicos.
Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé.
A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixam de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho."
Enviado por Lucia de Fátima Miranda em 03/05/2010.
1 comentários:
Concordo plenamente com o que foi exposto pelo pastor e coloco uma questão ainda mais profunda:
Quem estava fazendo a parte mais sacrificante, mais necessária, mais nobre e que demonstra maior
amor, que segundo a própria Bíblia Sagrada é o mais importante em toda a expressão do cristianismo, naquele momento, os que trabalham em prol das crianças com deficiência naquela instituição ou os jogadores com sua doação e presença momentânea?
É simplesmente lamentável saber que nos dias atuais e com tantos mecanismos de busca, livros,
universidades conceituadas e a facilidade que se tem para utilizá-los, ainda existam líderes
despreparados influenciando jovens em formação com idéias e interpretações e ações tão equivocadas que beiram a insanidade.
Com a mais absoluta certeza o cristianismo não tem nada a ver com esse ato do grupo e esse líder deve buscar pelo menos ler um pouco mais a Bíblia, se é que ele possui uma.
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