Segundo pesquisa feita na USP, a substância estimula a liberação de hormônios que combatem os efeitos inflamatórios da doença.
Existe uma crença popular que diz que veneno de abelha é um bom remédio para curar doenças reumatológicas, que chega a movimentar um comércio clandestino desta substância no Brasil. Como boa parte dos ditados e costumes populares muitas vezes têm um fundo científico, a médica Izabella Saad Rached decidiu investigar essa ligação em sua tese de doutorado, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O resultado foi que a constatação de que realmente a crença tem um fundo de verdade.
Por meio de seus experimentos, Izabella descobriu que o veneno da abelha, na dosagem correta, melhora o quadro clínico de pacientes com artrite. A pesquisadora conta que, de acordo com sua pesquisa, isso ocorre porque uma inflamação é capaz de amenizar outra mais grave. “A diminuição da dor causada pela artrite está associada a um cortisol (hormônio liberado em situações de estresse) chamado glicocorticoide. É uma substância endógena, ou seja, que o próprio corpo produz, cuja quantidade aumenta para diminuir as inflamações”, explica Izabella.
O primeiro passo da pesquisa foi determinar a dose ideal da substância para suavizar as dores: 1,5 micrograma por quilo de peso. “Essa dosagem deveria ser aplicada uma vez ao dia para, assim, apresentar ação anti-inflamatória durante o período de análise”, afirma.
A pesquisadora passou então a aplicar o veneno na região subcutânea de coelhos, para mais tarde induzir a artrite clinicamente. Dessa forma foi possível observar passo a passo a ação do glicocorticoide. Izabella Rached conta que a aplicação do veneno provocava uma primeira inflamação nos animais, estimulando a produção e liberação do hormônio para que o processo anti-inflamatório começasse a acontecer.
A surpresa da pesquisadora foi constatar que os altos níveis de glicocorticoide na corrente sanguínea dos coelhos conseguiu atenuar a inflamação provocada pela artrite. Bloqueando a ação do hormônio, os coelhos não apresentaram melhora em seus quadros clínicos. “A inflamação causada pelo veneno de abelha aumentou o nível do glicocorticoide endógeno e fez com que a artrite perdesse força quando em sua atuação. Isso mostra que o veneno de abelha pode servir como tratamento preventivo contra a doença”, afirma Izabella Rached.
No entanto, a pesquisadora alerta para o fato de que a aplicação do veneno não deve ser feita por conta própria em nenhuma situação. "Os resultados do tratamento com veneno de abelha na nossa pesquisa foram surpreendentes, mas ainda é um modelo experimental em animais. É importante lembrar que há riscos de anafilaxia (alergia ao veneno de abelha) no caso da aplicação em seres humanos. Esta possibilidade nos deixa bem preocupados. Ainda temos muito que aprender sobre como aproveitar os benefícios desta substância tão rica", diz Izabella.
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