terça-feira, 7 de outubro de 2014

Documentos clonados - como lidar com essa bandidagem

Algumas pessoas, principalmente os colegas de trabalho, já sabem das minhas peregrinações pelas delegacias de polícia ultimamente, em razão da clonagem dos meus documentos.
Agora, como o sofrimento parece estar chegando ao fim e já descobri todas as fases pelas quais a vítima dessa pilantragem tem que passar, vou postar aqui no blog, que sempre teve a finalidade de informar e ajudar os outros, tudo o que deve e não deve ser feito quando isso acontecer.

Notem que no meu caso, não houve roubo nem perda dos documentos.
Alguém teve acesso a eles, fez uma fotocópia e depois fez a festa.

Como tiveram acesso então?
Simples, há várias situações em que nos são solicitadas cópias de documentos. No meu caso, tive que fornecer dados pessoais e as cópias para uma imobiliária que me vendeu um imóvel, para as providências de registro e escritura.
Esses documentos passam por diversos órgãos públicos, cartórios e pelas mãos dos funcionários da própria imobiliária, o que nos impossibilita de saber quem foi o safado.
Há outra forma, bem mais simples: se por exemplo, um vizinho tiver acesso a uma correspondência sua, onde constem nome e CPF (o endereço ele já sabe), já consegue sair por aí dizendo que é você.

Como você descobre que teve os documentos clonados?
Quando aparece na sua casa o primeiro boleto desconhecido.
Mas existe um problema aí: nem toda dívida gera um boleto e você só vai notá-la quando for acionado para fazer o pagamento.

Como conseguem fazer a compra no seu nome? Falsificam os seus documentos?
Não necessariamente. Por incrível que pareça, tem um monte de lojas, financeiras e operadoras de telefonia (todas elas) que vendem SEM VER O DOCUMENTO, basta fornecer nome, endereço e CPF.

Quais as precauções para que isso nunca aconteça com você?
Reze bastante.

Quais a providências a tomar depois de constatar a clonagem?

1) Procure imediatamente a delegacia de polícia mais próxima da sua casa e registre um Boletim de Ocorrência. É importante que haja uma evidência, por exemplo um boleto ou um documento que comprove a dívida feita pelo picareta.
Informe à autoridade policial que você desconhece a dívida e, caso tenha suspeita sobre a forma de como chegaram até seus documentos, informe também.
Peça para que conste do B.O. o nome da instituição financeira, valor da dívida e vencimento e valor das parcelas, se for o caso.
Importante: a cada nova dívida constatada em seu nome, retorne à delegacia e solicite um adendo ao B.O. original, constando do adendo todas as informações da nova dívida.

2) Procure o banco onde tenha conta-corrente e cadastre-se no sistema de Débito Direto Autorizado (DDA). Esse cadastro deve ser feito em apenas uma instituição bancária, onde você passará a ser um sacado automático.
Isso fará com que todos os boletos emitidos no país contra seu CPF passem a constar do sistema.
Obtenha acesso ao Internet Banking, descubra onde consultar os boletos a pagar e consulte-os diariamente. Dessa forma, você vai descobrir a existência dos boletos bem antes de chegarem pelo correio e ainda vai se precaver da possibilidade de eles extraviarem.
Quando constatar um ou mais boletos, entre em contato imediatamente com o cedente e informe-se sobre os procedimentos que deve adotar para contestar a dívida. E não se esqueça: novo adendo ao B.O..
Geralmente as contestações são feitas de próprio punho, com a explicação do ocorrido, cópias dos documentos clonados, dentre outras exigências.
Encaminhe tudo por correio, com AR (aviso de recebimento), para comprovar que os documentos foram entregues e fique cobrando uma resposta, até que a dívida seja cancelada.

3) Cadastre-se no serviço Me Proteja da Serasa Experian
Clique no link e veja os planos disponíveis: o plano mensal, por exemplo, custa hoje R$ 19,90.
E não esqueça de pagar os próximos no vencimento, senão o serviço será cancelado.
Será preciso encaminhar documentação exigida no site e cópia dos B.O.s disponíveis.
O Me Proteja informa por e-mail todas as consultas realizadas ao seu CPF, periodicamente e cadastra um alerta sobre a clonagem dos seus documentos.
O serviço de envio de relatórios só começa a valer depois do pagamento do boleto, mas o cadastro do alerta já é feito na hora, provisoriamente.
Como a maioria dos comerciantes consulta a Serasa antes de efetuar a venda, vai descobrir que seus documentos foram clonados e não vai vender.
Nem mesmo quando for você mesmo quem estiver comprando.

4) Entre no portal Boa Vista Consumidor Positivo, cadastre-se e ative sua conta
Faça o cadastro de alerta dos documentos clonados (nesse caso não custa nada), que ficará registrado no SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), outro órgão amplamente consultado pelos comerciantes.

5) Entre no portal da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo (http://www.fcdlesp.org.br/fcdlesp_sitenovo/index.php?option=com_content&view=article&id=9&Itemid=10e faça o cadastro do alerta no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), outro órgão consultado pelos lojistas.
A inclusão vai depender também da entrega da documentação exigida.
Acompanhe a inclusão do alerta pelo site.

6) Se receber contas das operadoras de celular (eu recebi de todas), entre em contato e informe que desconhece a conta e que já tem B.O.s registrando a clonagem de seus documentos. Exija o cancelamento das contas, mas não perca o controle com a atendente, porque ele não tem culpa (nessas alturas, isso já começa a ficar difícil).
Registre novo adendo ao B.O.
Notícia desagradável: se a operadora for a Vivo, prepare-se para enlouquecer: vai ser muito difícil registrar a reclamação, você vai ter que recorrer à Ouvidoria várias vezes e depois disso vão te enviar avisos ameaçadores de cobrança, vão ligar pra todos os seus telefones de contato várias vezes num só dia (contei mais de 40 ligações numa sexta-feira) e vão ignorar todas as suas lamentações.
As demais operadoras acataram meu pedido da primeira vez e retornaram ligações confirmando o cancelamento.

7) Enquanto acontece tudo isso, procure um bom advogado especialista em crimes de estelionato, porque pode ser preciso.
E vá pensando em abrir um processo por danos morais e psicológicos contra a Vivo, enquanto toma antidepressivos e calmantes. Veneno, só em último caso.

8) Se tudo correr bem (e você desistir do veneno), o canalha logo deve parar de agir, porque vai perceber que não consegue mais comprar usando seus documentos e tudo voltará ao normal.
Volte à delegacia e cobre a abertura de inquérito policial para investigar toda a tramoia.
Colabore com a equipe de investigadores e forneça todas as informações possíveis.
Eu fiz um histórico à medida que tudo foi acontecendo e guardei num pen drive, foi bastante útil para a polícia.

9) Agora que sua vida parece ter voltado a ter sentido, você vai perceber que não consegue mais comprar a crédito, porque todo mundo tema informação que seus documentos foram clonados. Portanto, acostume-se a andar com toda a documentação que reuniu - principalmente as cópias dos B.O.s - para apresentar e provar a quem for preciso que você é você mesmo.

Duas dicas importantes:
a) Por mais tentador que seja, caso você tenha alguma pista que leve a descobrir quem é o autor do estelionato, não se aventure nem tente fazer justiça com as próprias mãos; isso é papel da polícia;
b) Quando recebi a primeira conta de telefone, cadastrei um deles no meu WhatsApp e... apareceu uma foto, que evidentemente deve ser a foto cadastrada no aparelho do ladrão. É uma grande chance de verificar se é algum conhecido ou não. Se conseguir a foto, não esqueça de fornecê-la à polícia junto com os demais documentos, como eu fiz. A foto que eu consegui é essa aí em cima... caso conheça o sujeito, deixe alguma informação nos comentários.

Ainda não sei se prenderam ou estão em vias de prender o vagabundo, mas agradeço pelo profissionalismo da equipe da polícia civil da 17ª Delegacia de Polícia (do bairro do Ipiranga, aqui em São Paulo, onde moro).
Volto a informar sobre o final da história, em breve (assim espero).

2 comentários:

Juliana disse...

olá, Bruno.

muito útil a sua postagem! também estou sendo vítima de estelionatários. assim como aconteceu com você, meus documentos pessoais foram clonados, embora não tenham sido roubados/extraviados.

a 17ª DP abriu investigação? aqui na DP do Rio de Janeiro, quando fui fazer o boletim de ocorrência, praticamente disseram não ser possível fazer nada. sendo que tenho uma série de pistas, que poderiam levar ao criminoso.

você chegou a processar algum estabelecimento? seu CPF foi negativado?

muito obrigada pela ajuda!

Bruno G. Dinardi disse...

Juliana:
A 17ª DP abriu inquérito e está investigando.
A polícia tem obrigação de investigar pois trata-se de crime de estelionato.
Não processei nenhuma empresa porque, com exceção da Vivo, todas acataram minhas negações de reconhecimento das dívidas.
A Vivo me infernizou por um bom tempo, mas depois que ameacei a ouvidoria de processar a empresa, resolveu parar de me ligar. Mesmo assim, até hoje não recebi oficialmente a informação de que as dívidas foram canceladas.
Isso não me surpreende, tendo em vista que a Vivo sempre me passou a imagem de empresa desorganizada e que não trata com respeito os seus clientes.

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