sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Teoria das janelas quebradas

Se o vidro de uma janela de um edifício é quebrado e ninguém o troca, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais.

Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito...

Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o professor Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social.

Deixou dois carros abandonados na via pública, dois veículos idênticos, da mesma marca, modelo e cor.
Um ficou em Bronx, na altura de uma zona pobre e conflituosa de Nova York, outro em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia.
Dois carros idênticos abandonados, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local. 

Resultou que o carro abandonado em Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. 
Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc..
Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram.
Já o carro abandonado em Palo Alto se manteve intacto.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito, atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras (da direita e da esquerda).

Contudo, a experiência em questão não terminou aí.
Quando o carro abandonado em Bronx já estava destruído e o de Palo Alto impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o do Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo do bairro rico ao mesmo estado que o do bairro pobre.

Por que o vidro quebrado, no carro abandonado num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?
Não se trata de pobreza.
Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
Um vidro partido num carro abandonado transmite a ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação, que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, em que vale tudo.
Cada novo ataque que o carro sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores, James Q. Wilson e George Kelling desenvolveram a "Teoria das Janelas Quebradas", a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem são maiores.
Se o vidro de uma janela de um edifício é quebrado e ninguém o troca, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais.
Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
Se cometem "pequenas faltas" (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar um sinal vermelho) e isso não gera punição, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves.
Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando chegarem à idade adulta.
Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor à criminalidade), são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A Teoria das Janelas Quebradas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, que se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade.
Começou-se por combater as pequenas transgressões: pichações deteriorando o lugar, sujeira das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens.

Os resultados foram evidentes.
Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.


Tolerância Zero

Mais tarde, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Quebradas e na experiência do metrô, impulsionou a política de Tolerância Zero.
A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à lei e às normas de convivência urbana.
O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.

A expressão Tolerância Zero soa como uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas seu conceito principal é a prevenção e promoção de condições sociais de segurança.
Não se trata de linchar o delinquente, nem de estimular a prepotência da polícia.
De fato, aos abusos das autoridades deve também aplicar-se a Tolerância Zero.
Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito.
Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.
Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na vila ou condomínio onde vivemos, não só em cidades grandes.
A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.

Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc..

Recebido de Luiz Carlos Reis em 16/08/2013.

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